segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Feliz ano velho 2014

Feliz ano velho 2014
Olha só que loucura! Fim de tarde de dezembro, insuportáveis 32°C no termômetro de rua, eu sento sozinho na área de externa de um café em Porto Alegre, pensando em alguma coisa que deve ter acontecido em algum lugar onde está nevando agora. Peço um chopp para o garçom, acendo um cigarro e alguém me toca no ombro. Penso na hora: - Putz...agora é proibido fumar até debaixo de marquises. - Me viro já pedindo desculpas para o garçom, mas para minha surpresa, em vez do garçom, quem está ali é o John...ele mesmo...o Lennon. Fico sem palavras , ele levanta os óculos, acende um cigarro, senta numa cadeira, coloca as pernas cruzadas na outra e fala: - E aí cara, então é natal e o que você tem pra me contar? (Sim, ele faz a pergunta em português...a viagem é minha, porra ...e rola no idioma que eu quiser). O garçom coloca dois chopps na mesa, acendo novamente o cigarro e depois de uma tragada profunda começo o desabafo. – Olha só John, foi um ano difícil. Perdemos o Zé Wilker, Hugo Carvana, Ariano Suassuna, o Bellini, Nelson Ned, Paulo Goulart, Luciano Do Valle, Jair Rodrigues, Fernandão, Rubem Alves, João Ubaldo Ribeiro, Robin Willians, Manoel de Barros , Roberto Bolaños e muitos outros. – John dá um bocejo entediado e eu continuo. – Até aí faz parte, todo ano morre gente e nasce gente, mas também perdemos a copa do mundo e de 7X1 pra Alemanha. Bom, também fizemos a Copa, que foi boa e afinal aconteceu. A Dilma venceu a eleição mais disputada da história. Fique feliz com isso, votei nela. Mas quem manda ainda é o capital financeiro. Manda em tudo, manda mesmo. O resto você sabe, crise aqui, crise lá, conflito na Criméia, jornais fazendo cortina de fumaça pra ampliar lucros do capital, terremoto aqui, vendaval lá, celebridades casando e separando, bandas dos anos 80 voltando pra fazer um caixinha, 50 anos do golpe militar, gente querendo a ditadura de volta e o Lobão falando uma merda atrás da outra. –Olho pro lado e cadê o John..putz o cara ficou entediado e vazou justo agora que eu ia contar que liberaram a maconha no Uruguai. –Acordo num susto, sentado no mesmo café com seis canecas de chopp vazias. É claro, foi só um sonho e o meu sonho acabou. Peço mais um chopp.
É amigos, 2014 se foi e, por mais que muita gente ainda tente, não tem jeito de colocar a pasta de dente de volta no tubo. Até podemos, mas não é exatamente aconselhável chorar sobre o whisky derramado. Afinal, já dizia profeticamente o Belchior que as lágrimas do jovem são fortes como um segredo e podem fazer renascer um mal antigo. Então, vamos deixar os mortos descansar em paz e...deixemos de coisas...cuidemos da vida.
Tenho a impressão que todos estão cada vez mais à flor da pele. Acho que não é exagero dizer que tem pólvora no ar. As redes sociais tratam de amplificar nossos sentimentos e dar contornos coletivos às pequenas indignações do dia a dia, outrora quase mudas. Acho que vivemos em constante caça às bruxas. As pessoas procuram culpados. Acusam e julgam sem provas e executam sumariamente. A imprensa diz, Fulano é acusado de..., e antes mesmo que complete a frase milhares de mãos nervosas já apedrejaram o Fulano virtualmente. Eis aí outro detalhe dos nossos dias. A indignação virtual das massas, um verdadeiro exército de kamikazes incapazes de ir à luta. Era da informação, era da contradição. O povo quer um Estado máximo(que proveja todos direitos sociais possíveis com a melhor qualidade do mundo) e um Estado mínimo na carga tributária. Querem o fim da corrupção, mas admitem que empresas patrocinem políticos. Querem os melhores políticos, mas não fazem o mínimo esforço pra entender o mínimo sobre política. Formam suas opiniões sobre a superfície rasa das capas de jornais que trabalham para o sistema financeiro. Mergulham fundo no oceano de alienação da grande mídia, sem perceber que estão cada dia mais longe da verdade. Como diria o Oswaldo Montenegro, vivem nesse quebra cabeça sem luz, repetindo que querem sem buscar, e de um modo abstrato se iludindo que fazem. Mas, segundo o Nei Lisboa, somos cucarachas, e baratas sobreviverão, ao fim da galáxia e ao fim da ilusão.
Apesar de tudo, quero acreditar nas teosóficas teses de que a humanidade está evoluindo e, que as gerações futuras conduzirão a evolução da nossa raça. Que venham mais sensíveis, como diria meu amigo Charles Schooll, capazes, não de escutar o riacho, mas de sentir o conflito de cada gota. Que venham capazes de olhar o semelhante e enxergarem a si mesmos. Capazes de gestos mais generosos, não apenas no natal. Que sejam, não apenas tolerantes, como quem agüenta o próximo, mas seres humanos integrais que busquem entender e aprender com a diferença. Que estas crianças conduzam nossa infantil democracia à idade adulta. Que mais Mujicas governem o mundo para que a humanidade seja mais humana.
Tenho hoje 33 anos, e por essa fatídica idade, acho que também o direito a um pedido aos meus amigos. Deixo ele aqui então: -Evoluam, sempre! Vou procurar também seguir a máxima de Nietzche: -Não deves apenas reproduzir-te, deves exceder-te. Que cada dia seja um aprendizado capaz de nos tornar seres humanos melhores. Não melhores que os outros, apenas melhores que nós mesmos. No fim o John saiu antes que eu pudesse dizer a ele o que fiz de bom esse ano. Bom, mas posso contar aqui pra vocês que ficaram comigo até agora nessa mesa. Fiz muita coisa que talvez não devesse ter feito, enquanto tentei lutar por tudo em que acredito e me tornar um pouco disso. Mas, acho que o melhor que fiz foi tentar cultivar nos que virão depois de nós, nos meus filhos Davi e Lênin, algumas sementes do mundo que eu gostaria de viver. Acho que o John ficaria satisfeito com isso. Eu fiquei.
Gostaria também de ter feito muita coisa que não fiz. Queria ter visitado mais amigos e ter feito mais canções. Queria ter plantado mais árvores e escrito mais poemas. Queria ter dado mais beijos e lido mais livros. Escutado mais discos, visto mais o pores do sol. Mas, pra isso tudo, tenho o dia seguinte. Temos o ano seguinte. Um ano novinho chegando cheio de oportunidades para nos tornarmos pessoas sempre melhores.
O Fernando Pessoa disse em algum poema do Álvaro de Campos que todos temos duas vidas, a verdadeira, que é aquela que sonhamos na infância e na adolescência ( quando sonhávamos), e a falsa, que é a do dia a dia, da convivência mecânica com os outros, das escolhas realizadas por conveniência e não por paixão, enfim, aquela que acabam por nos meter num caixão. Ele falava, acredito, dessa cansativa vida de fazer e ser qualquer coisa que os outros esperam que façamos e sejamos, e não o que realmente desejamos. O Leminski adverte, de tanto fazer tudo parecer perfeito você pode ficar louco ou para todos efeitos, suspeito, de ser verbo sem sujeito.
Em 2015, espero que todos nós retomemos, pelo menos um pouco, a essência dessa vida verdadeira. Essa que mereça ser vivida. A vida das pessoas de verdade, a vida que existe fora dos Shopping Centers, fora do mundo da moda e das modelos em pele, osso e peles de animais no pescoço. A vida fora das revistas de celebridades, das campanhas publicitárias, de toda afetação da vida noturna nas boates e da vida diuturna das redes sociais. Que retomemos a vida, que com certeza ainda existe, talvez longe demais das capitais, em algum lugar entre o que fomos, o que somos e o que sonhamos ser. Desejo que todos reencontremos nesse novo ano qualquer coisa boa que tenhamos perdido por esse caminho. Desejo que todos conheçamos nesse novo ano qualquer coisa que esperávamos há muito tempo. E, finalmente, desejo que todos descubramos que o melhor da vida não ficou pelo caminho, nem está no próximo capítulo, mas acontece agora enquanto você lê isso e percebe que é sempre o instante o momento mais importante. Que no fim de 2015 John Lennon não nos encontre com as mãos e a vida vazias. Um surpreendente e maravilhoso 2015 pra você e pra quem você ama. Grande abraço.
http://youtu.be/DO_QAgeNnOg

Diou ( dionatamatos.blogspot.com.br )
Alucinação - Engenheiros do Hawaii Album Minuano Faixa 9
youtu.be

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

03/12/2014

Cena do dia(para esquecer);cobertura dos jornais da rede globo sobre votação no congresso nacional de projeto de lei que trata da redução da meta do superavit primário - na prática - permite ao governo ampliar gastos com políticas sociais e diminuir comprometimento com pagamentos da dívida pública(dinheiro de bancos,especuladores,rentistas) -no foco das câmeras da globo- meia dúzia de burgueses e partidos de oposição causando tumulto no plenário como se representassem o povo brasileiro - na edição da globo- o derrotado senador Neves falando em "voz do povo" referindo-se a meia dúzia de burgueses- o povo - que não tem a menor ideia do que está acontecendo forma sua debilitada opinião baseados nestas coberturas"jornalísticas" tendenciosas - a globo - defendendo obviamente o interesse de seus clientes - a democracia - manipulada instituição mal formada de nascença no Brasil segue atropelada por essa inexplicável instituição(a Globo) fundada no seio da ditadura e desde então à serviço..do capital - as reformas- política e dos meios de comunicação precisam avançar ou os perdedores seguirão escrevendo a história - na versão da macro história - nada gera um general - na visão do microscópio - é o ópio do trivial. ‪#‎entradesolanasalavip‬

Cena do dia(pra lembrar):
Missa na Igreja das Dores(POA) em comemoração ao dia do samba(homenagem a Ari Barroso,se não me engano) reunindo integrantes de escolas de samba da capital,membros de religiões afro brasileiras e católicos num rito ecumênico que a meu ver sintetiza o melhor da nossa cultura em seus melhores aspectos que dizem respeito não a tolerância, que como disse o Boaventura Souza Santos implica em suportar o próximo, mas a uma verdadeira integração com ricas trocas de experiências. Lindo, emocionante. Cena pra voltar a acreditar no mundo depois da avalanche de pessimismo do "jornalismo" das grandes redes de TV.