Tem muito garnizé pensando que é pavão
Tem qualquer extravagância
exagerada ( uma redundância, obviamente) no comportamento de quase todo mundo
nas redes sociais, apelo do qual pouquíssimos escaparam e, que neste caso eu mesmo não me excluo e carrego, além
da vergonha alheia a minha própria, ao verificar a forma como certas vezes me
manifestei nesse palco de fácil acesso .
É a explosão de um narcisismo reprimido por milênios, que acompanhou latente a
evolução tecnológica da humanidade, sem
canal disponível para sua vazão, que agora encontra finalmente a torneira aberta e comporta-se
imprevisivelmente, tanto quanto qualquer mola comprimida ao fim da força
repressora. Queria acreditar que isso
explicasse esse comportamentos e que essa curva ascendente de manifestações
ridículas tende-se a estabilização ao longo do curso civilizatório, mas a
impressão que tenho agora, e o pouco estudo que tenho sobre hábitos do homem e
as tendências comportamentais intrínsecas à espécie, não me enchem de
esperança. Estes movimentos ondulatórios coletivos não tem limites sociais, econômicos
ou etários. São, nesse sentido, mais democráticos que certos tipos de gripe. Atingem a pequena menina que já exagera na
maquiagem enquanto admira a própria imagem no espelho. Atingem o garoto que sente
a necessidade de opinar ou intrometer-se
em conversas alheias , a adolescente que fala sem parar monopolizando qualquer possível
tentativa de comunicação entre duas ou mais partes . Alcançam o adulto que procura ostentar
aquisições ou conquistas materiais em busca de elevação do seu status social, e
está igualmente presente no idosos e na percepção que este desenvolve, de que a
sua idade lhe conferiu, além de direitos, alguma dignidade que lhe faltou durante toda
essa existência e que este agora passará o resto da vida a cobrar, e disto fará
a razão para o resto dos seus dias. São 10001 variações de complexos de inferioridade
e superioridade combinados e nunca devidamente diagnosticados ou tratados, dos
quais provavelmente nenhum de nós escape, em certa medida em algum momento. É
muita gente, parafraseando Renato Russo na canção “Índios”, falando demais por
não ter nada a dizer. Um incessante e crescente culto do “ter” em detrimento do
“ser”. Essa afetação geral, tão evidente nesses canais virtuais é,
infelizmente, tendência comportamental
predominante nas sociedades capitalistas modernas. Poderia citar a aqui, apenas dando uma
olhadinha no Facebook , mais milhares de expressões dessas doenças modernas ou
antigas e de suas variações e desvios diversos, mas acho que profissionais mais
competentes conduzirão no futuro curiosos estudos sobre essa fase da humanidade,
em que éramos garnizés e nos comportávamos como pavões. É claro, que entre nós
já conviviam criaturas a frente de seu tempo que faziam justamente o contrário.
Me ocorreu agora, dois exemplos de discretíssimos pavões que nunca ostentaram
toda magnitude de suas plumas, são eles Bob Dylan e Chico Buarque. Penso que
mais umas dez humanidades para frente (acordei otimista hoje) eles serão a
maioria. Amém.
Diou/2017