Prezad@s companheir@s, venho por
meio desta informar meu desligamento do corpo representante da tendência
interna do Partido dos Trabalhadores,
Democracia Socialista de Esteio-RS. Deixo nas linhas seguintes um breve
relato acerca de algumas experiências pessoais que tive enquanto participante
da DS-Esteio, bem como sobre os motivos que conduziram a esse afastamento, com
o intuito que este relato possa de alguma forma contribuir com a evolução dos
trabalhos dessa valorosa organização.
Como sabem, apoio e milito na
tendência DS-Esteio desde, aproximadamente, o início de 2008, período que
coincide com o início das mandatos do
companheiro Léo Dahmer. Minha
aproximação e conseqüente início de colaboração com a corrente, deu-se através do convite da companheira
Tatiane Della Pase e intensificou-se ao longo desses anos. Durante esse período
atuei, como indicado político da corrente na organização interna da sede do
Partido dos Trabalhadores-Esteio , e tive uma breve passagem, também a partir
de uma indicação da corrente, pela Secretaria Municipal de Arte e Cultura, onde
exerci o cargo em comissão de coordenador cultural, no último ano da gestão de
Gilmar Rinaldi. Nestas ocasiões desenvolvi ,junto aos companheiros da corrente,
diversos projetos e ações destinados, principalmente, ao fortalecimento das
bases humanas/políticas desse grupo e à disseminação de nosso projeto político
na cidade de Esteio. Foram muitas e ricas
as experiências humanas que desfrutei nesse ciclo vital, pelas quais sou
muito grato e, me sinto compelido a tecer aqui um sucinto resumo sobre minhas
percepções dos aspectos políticos desse
processo.
No que diz respeito aos trabalhos
que desenvolvemos, enquanto organização política municipal de Esteio, no
período em que participei dessas construções, é obvio que nossa força pode ser medida, em parte, por termos
conseguido eleger o mandato de vereador
do companheiro Léo Dahmer por três eleições consecutivas. No entanto,
penso que a autocrítica do grupo nem
sempre foi absolutamente sincera ou eficaz, no sentido de corrigir eventuais desvios de conduta ou de
planejamento. Atribuo isso, em parte, como é comum em muitas organizações, às correlações de poder na esferas das construções internas da
corrente. Sendo assim, me permito aqui uma pequena releitura sobre o
desenvolvimento dos projetos da corrente ao longo do tempo que atuei na
DS-Esteio.
Quanto a atuação destes mandatos,
bem como da corrente neste período, penso
que o primeiro mandato tenha sido de longe o mais expressivo. Nesses
primeiros 04 anos, o mandato foi proponente e protagonista de diversas obras de
infraestrutura (principalmente na região dos bairros e regiões afetados por
enchentes) na região relacionadas ao
controle de enchentes, urbanização, regularizações fundiárias bem como de
grandes demandas sociais e culturais . Também foi um período de grande
fortalecimento das bases de apoio do grupo e de suas relações internas. A
atuação positiva do grupo nesse período culminou no expressivo resultado
eleitoral da segunda eleição, quando o companheiro Léo Dahmer obteve a maior
votação da história de Esteio. O segundo mandato adota novas posturas,
assumindo uma posição de liderança na bancada de situação do governo Gilmar
Rinaldi, o que, acredito, tenha gerado ao mandato mais ônus do que bônus, no
que se refere a manutenção de suas bases eleitorais. Este segundo mandato, que
concentra sua linha de atuação na defesa dos projetos do governo Gilmar, que
nem sempre responde a altura dessa lealdade, em minha opinião, acaba por
negligenciar ou deixar em segundo plano algumas de suas bandeiras de campanha e
suas grandes marcas constituídas no primeiro mandato, principalmente as
relacionadas à cultura ( estúdio público
) e à educação ( ensino técnico). Em minha visão, esse abandono ou falta de
prioridade a algumas dessas bandeiras nos custaram a perda ou o enfraquecimento
de diversas de nossas bases de apoio,
principalmente algumas constituídas de jovens e artistas. Além disso, o mandato
perde nesse tempo parte do apoio de sua principal base regional, à das áreas de
enchentes, o que nesse caso pode ser atribuído a pouca presença física do mandato
nessas regiões, após o pleito , bem como à estratagemas do próprio governo que
busca nesse processo fortalecer seu quadros em detrimento do mandato do
vereador da DS. Entre outros, penso que sejam esses os principais fatores que
levaram a redução da votação para o terceiro mandato. Pesa também para essa redução da votação da
terceira eleição, a falta de um posicionamento firme da corrente/ do mandato
frente à possibilidade da candidatura do companheiro Léo para o cargo de
prefeito. A nível de organização interna, penso que a corrente tenha perdido ou
enfraquecido diversas de suas bases pela ausência de diálogo e apoio à essas. O
terceiro mandato inicia em uma conjuntura completamente diversa dos anteriores,
atuando pela primeira vez como oposição, num cenário politicamente muito mais
adverso que os anteriores. Não conseguimos eleger nenhum dos candidatos que
apoiamos ao parlamento estadual e tão pouco contamos com grandes apoios no
parlamento federal. Também estamos fora dos espaços do poder executivo nas três
esferas de poder em que atuamos. Apesar disso, o mandato do vereador ainda
mantém, como em momentos anteriores , uma postura combativa na defesa de nossas
macro políticas e uma atuação satisfatória enquanto oposição no município
(liderando a bancada petista), mas, hoje, às vésperas de completar o primeiro ano desses novo mandato, perante a
opinião pública em sua maioria, em minha visão, ainda não disse à que veio.
Embora a comunicação do mandato venha tendo uma atuação mais dinâmica que em
períodos anteriores, penso que o mandato não tenha deixado claro à maior parte
da população suas bandeiras
fundamentais, seus principais eixos de atuação
e projetos de trabalho. Além disso, avalio que faltam prestações de
contas ou a retomada de lutas anteriores como as relacionadas a cultura e à
educação ( estúdio público, semana cultural, escola técnica, . Penso que isso
tudo seja especialmente preocupante em função de nossa expectativa ( que
continua sendo a minha) de conduzir o companheiro Léo Dahmer a uma disputa pela
prefeitura da cidade no próximo pleito.
Feita essa pequena releitura da
conjuntura desses anos em que estive na DS-Esteio, deixo claro a seguir os
principais aspectos de meu descontentamento pessoal com a organização da
corrente. Seguem os mesmos listados em ordem aleatória:
·
A ausência de apoio político do mandato e da
corrente aos quadros políticos que mantinha e mantém em governos petistas e a
ausência de projeto político para a atuação destes. Penso que nossa ocupação de
espaços políticos (cargos em comissão), não que isso não seja comum à prática
política, dava-se e ainda dá-se de forma pouco estratégica, no que diz respeito
ao desenvolvimento de projetos políticos
nesses espaços. Estes, em muitos casos, constituíam-se como meros “empregos políticos” para que o “empregado”
garantisse a manutenção de sua base de apoio eleitoral.
·
O fato de que o mandato, não tenha
acatado/cumprido com a decisão da
corrente de dividir seus cargos em comissão (assessores) entre um homem e uma
mulher (política de gênero).
·
A ausência de iniciativas e projeto da corrente
( enquanto detentora de mandato) para a construção, fortalecimento e formação
de seus quadros estabelecidos, e de novos quadros.
·
A falta de apoio da corrente aos seus quadros em
suas respectivas bases de atuação (movimento comunitário, cultura, saúde, etc).
·
A falta de apoio da corrente à decisão tomada
anteriormente de apoiar uma candidatura feminina.
·
O fato de não consultar todos os membros da
corrente, num ambiente plenamente democrático, quando da ocupação de cargos
políticos (cargos em comissão), gerados a partir da influência da corrente em
espaços dentro e fora do município.
·
O fato de centralizar a relação com a esfera
estadual da corrente DS em figuras do mandato ou próximas a este, limitando
assim a construção, circulação e construção política de novos quadros.
Enfim, são estas
as principais causa do meu afastamento da organização DS-Esteio. Assim, tendo colocado aqui minhas
insatisfações e leituras pessoais referentes a atuação do mandato e da corrente
DS, devo dizer que estas, são na sua maior parte, questões de ordem pragmática,
que sinalizam mais como uma não adaptação minha aos modelos/padrões
operacionais vigentes na gestão do grupo DS ESteio, do que qualquer
discordância ou não adequação aos princípios político/filosóficos da tendência
Democracia Socialista, aos quais me sinto pessoalmente alinhado, apesar de
também alimentar críticas acerca da distância que muitas vezes há entre essa base ideológica e
a práxis dos mandatos que a representam.
Por fim,
esclareço aos(as) companheir@s que não tenho intenção de passar a militar ou
participar de nenhum outro grupo político atualmente constituído de nosso
município, mais por falta de identificação política com estes do que por
qualquer outro entendimento. Sigo meu caminho, inevitavelmente crítico, na luta
por uma sociedade socialista e pela organização dessa luta, por enquanto, sem
vínculos a nenhuma tendência interna, mas ainda acreditando na organização do
Partido dos Trabalhadores como a grande ferramenta política da esquerda
brasileira. Desejo que os(as companheir@s sejam cada vez melhores, mais
críticos e mais com “ Che” em suas lutas e que minhas palavras, bem como minha
passagem pela corrente, possam ter contribuído tanto a nossa causa como
contribuíram a minha formação política. Grandes lutas à tod@s. Hasta la
victória siempre.
Diou
Esteio, 18 de
novembro de 2017.