Eu tenho pressa e tanta coisa me
interessa
A idade nos traz certas reflexões
inevitáveis, infelizmente, não para todos. Mas, pra mim algumas tem chegado a
marolar como uma garrafa de correios no oceano. Uma, que particularmente tem me
incomodado nos últimos tempos, diz respeito ao meu hábito, que acredito seja
comum entre um certo número de viventes, de fazer 120 coisas diferentes por minuto sem mal
conseguir concentrar-se direito em uma delas. Agora mesmo digito essas linhas
enquanto leio um artigo, penso na agenda do dia e quase me esqueço da água do
chimarrão fervendo no fogão. Dessas reflexões, por mais dissecações que tenha
feito até então, não tenho extraído mais do que outras dúvidas. Será que
afinal, tantos defeitos que “sanamos” com o tempo, parafraseando mestre
Oswaldo, não eram o melhor que tínhamos em nós?
Possivelmente não exista saída
fácil pra esse labirinto do Kid Abelha, de saber de quase tudo um pouco e quase
tudo mal. Labirinto que afinal entramos por gosto, e que só quem nele peregrina
sabe que ele também é cheio de belezas. E talvez a parte mais difícil dessa
fuga não seja encontrar a saída desse emaranhado de alternativas, e sim querer
desprender-se de tão agradáveis experiências para viver uma existência
monocromática. Até porque, quem nunca pelo menos passeou em sua suas esquinas
nem sempre quadradas, não tem ideia como tudo está tão intrinsecamente ligado, que não faz sentido isolar partículas
para analisar seu comportamento, se as mesmas comportam-se de forma diversa
dependendo do olhar do transeunte, das cores da parede e principalmente da
trilha sonora. Tem poesia na matemática e matemática na filosofia. Tem muito
conhecimento acumulado e sintetizado numa canção, extraído por processos muito
além da mais fina destilação in vitro já realizada pela moderna ciência. Enfim,
talvez a capacidade de subversão dentro
de nós seja a verdadeira mãe de uma possível, e talvez até nunca total,
compreensão dos processos. Talvez , de fato convivam entre o caos e a terra
muito mais possibilidades do que julga nossa rebeldia poser, que acaba sempre
por refletir nossos pais na poça de água de uma rua asfaltada, e a única
certeza que agora me ocorre é que não quero deixar de saber sobre um átomo
desse oceano. E nesse caso, sei que às vezes deixo de mergulhar em suas profundidades para
navegar nas belezas de sua agitação . Ao fim do texto, ainda sem respostas,
jogo a garrafa de volta ao mar pra que ela incomode outros em outras praias ou,
quem sabe daqui há alguns anos volte aos meus pés, talvez também pisando em
outra praia.
Diou/maio 2017