sábado, 23 de junho de 2012

O tratado final dos espelhos

O Homem Boi

Não, não se trata de nenhum novo super herói, nem de nenhuma vítima da infidelidade conjugal. A expressão "homem boi" foi cunhada pelo Engenheiro Frederick Winslow Taylor, considerado o pai da administração cientifica, para designar o perfil de trabalhador ideal ao sistema de produção capitalista. Este, era para Taylor, e continua representando para a grande superestrutura capitalista, o cara, peça chave do modo de produção capitalista, que executará uma tarefa repetitiva sem questionamentos e, de preferência, sem outro pensamento que não seja o parafuso que ele apertará durante toda sua vida, sempre no menor tempo possível, é claro.


Não é importante que ele pense, apenas que aperte o parafuso. O cérebro automatiza o gesto e o sujeito já executa sua tarefa até dormindo. Mas, o cara não chega a este nível de "concentração" por acaso. Há todo um sistema que guarnece sua visão lateral, semelhante ao acessório bovino, para que ele não se distraia. Todos os dias ele vai para casa, após sua jornada, come, dorme e volta para o seu parafuso. Ele também assiste novela, futebol, propaganda, compra, vende e morre, mas, jamais questiona. Acredita nos mistérios da fé, que Deus é bom e o Diabo é ruim, nos dez por cento da igreja, no patrão nosso de cada dia e até no William Bonner.

Executar sem pensar é sua especialidade, afinal, foi treinado para isso. A escola habilitou-o a apertar parafusos, não a questionar. É sem dúvida um sujeito dócil, pacífico e passivo. E pior, ele é apenas um tijolo nesse, imenso e sempre em ampliação, muro de alienação.

Esse círculo vicioso hereditário não poupa ninguém. Todos somos por ele assediados em algum momento e de alguma forma contribuímos à retroalimentação deste sistema. Só a consciência deste processo pode nos salvar deste jugo coletivo e, só a nossa luta salvará nossos filhos de tal destino. É preciso que a classe trabalhadora entenda a sua força e lembre, que nada tem a perder além dos seus grilhões.*



*Referência a trecho do Manifesto Comunista ( Karl Marx )





Os pratos de porcelana e a coerência

Conta a história informal da revolução cubana, que o comandante Ernesto "Chê" Guevara, em uma visita à antiga URSS, foi tomado pelo mesmo asco de Cristo, diante dos vendilhões do templo, ao constatar que seus correligionários russos haviam preparado para a ocasião, uma suntuosa mesa, e um refinado cardápio à ser degustado em pratos de porcelana. Diante de tal ostentação, o comandante teria indagado à seus anfitriões, se o proletariado daquele país também comia em tão nobres pratos.


Este emblemático episódio explicita bem o espírito coerente deste homem, que dedicou sua vida a causa socialista e que, sem dúvida alguma, entendia bem a necessidade de harmonia entre o discurso e a prática.

Em nossos dias, o desalinho entre fala e comportamento, no antro de nossa sociedade viciada, é regra e não exceção. As práticas de corrupção, que tanto execramos nas altas esferas do poder, praticamo-las tais quais ou semelhantes nos menores detalhes de nosso quotidiano. Não somos melhores que os políticos que maldizemos, quando solicitamos "favores" à nosso amigo funcionário público, quando furamos uma fila porque estamos atrasados, ou mesmo, quando abandonamos o papel de bala pela janela do automóvel e depois protestamos contra as enchentes. E nossos governantes, serão sempre tal e qual o reflexo da sociedade no espelho.

Fico pensando, se todos os convidados do Fausto Silva fossem tão elegantes e sinceros, "tanto no profissional, quanto no pessoal", como ele afirma, a revista "Caras" seria, "mais do que nunca, hoje", um manual de integridade e ética.