Declare guerra a quem finge te
amar
Desde 2010, talvez um pouco antes
ou um pouco depois, mas especialmente após este ano, posso afirmar que as
tensões sociais em torno da vida política nacional acentuaram-se e ganharam
evidência nos grandes meios de comunicação em massa. Essa designação temporal
que indiquei aqui, a partir de percepções pessoais, coincide com o fim do 2°
mandato de Lula da Silva e com a eleição da 1° presidenta do Brasil. O momento era
de ápice da crise econômica internacional e, extraordinariamente, um dos
melhores momentos econômicos da história das classes populares no Brasil.
Nesse contexto, aproveitando-se do, na época,
recente advento das redes sociais, surge/ou aparece uma nova camada de
comentaristas políticos. Eram na maioria, oriundos da popular tradição do comentário
amador futebolístico esportivo de boteco e, munidos com os mesmos critérios
desses democráticos espaços sociais locais, porém agora com alcance global. Até
aí, poderíamos afirmar que vivíamos um
grande momento da vida democrática nacional, e que a multiplicidade de vozes
legitimava nosso processo democrático e enriquecia nossas experiências sociais.
Porém, todas nossas vãs esperanças e filosofias, que iam no sentido do louvor
da pluralidade, logo caíram sem paraquedas em 2013, numa multidão de confusos
revolucionários conservadores, influenciados pelos mais escusos interesses do
mercado e retroalimentados por um sistema midiático perverso, tendo as redes
sociais como elemento catalisador de toda essa “anarquia de mercado”. Pronto,
estávamos de fronte para o abismo e fomos capazes de dar alguns passos a frente
até 2020.
Nesse ínterim, o país teve todos
os retrocessos possíveis em todos setores que imaginarmos, e aqui nenhum número
me deixa mentir. Além disso, na multidão
de desinformados e de leitores equivocados, surge, no país dos banguelas, a “messiânica”
figura sem dentes de Jair Bolsonaro e de sua horrenda trupe. E, apesar de toda
a incredulidade dos ainda crentes no processo democrático, em 2018 temos que
aceitar e procurar entender que o Sr. Bunda Suja sentará na cadeira da presidência.
Sem mais nada o que fazer, só nos resta conceder a um apoiador das torturas do
regime militar o “benefício da dúvida”, e suportar sua militância fascista e
fascinada invadindo mais uma vez as redes sociais, com seu recém adquirido
gosto pelas questões políticas, tecendo ou repetindo todo o tipo de barbárie
como soluções para todos os assuntos da vida nacional. Até aí, lembrando que
muitos desses apoiadores do Coiso eram meus parentes, amigos ou pessoas de
vasta convivência, fiz todos os esforços possíveis para suportá-los, tentar
demove-los de suas “certezas de para-choques de caminhão” e até tentar explicar
questões sociais ou econômicas complexas, que entendi após muitas leituras e
estudos, durante insuportáveis 20 minutos de uma cerveja. Vim até aqui, mas
depois de 2020, e das barbaridades faladas e praticadas por essa abominação,
que atualmente conduz o país, durante a mais severa crise de saúde de todo
tempo que vivo, pra mim deu.
Extrapolamos as divergências naturais do processo democrático
. Agora estamos falando de diferenças de
outro nível. Trata-se de uma crise civilizatória. De um retrocesso que
nenhum democrata deve admitir, em direção a períodos ditatoriais desumanos e a
outras épocas terríveis do processo civilizatório da humanidade. Não se trata
mais de um assunto que possamos resolver e chegar a consensos, dentro de um processo
democrático. Estamos falando de interesses e visões inconciliáveis. Ultrapassam qualquer nível de
divergência relacionadas a politicas econômicas de esquerda ou de direita, ou a
diferenças passíveis de debate nas pautas morais há muito socialmente
construídas por liberais e conservadores. Estamos falando de barbárie.
Quando as posturas e decisões de um
representante político colocam a vida de minha família, ou de qualquer outro
ser humano em claro e sério risco, isto rompe o tecido do nosso contrato social
e nos coloca como inimigos naturais. E, assim como eu provavelmente eliminasse
ou me afastasse de qualquer fera selvagem ou situação que oferecesse perigos a mim ou as pessoas que
protejo, essa passa a ser minha nova posição diante desse “desgoverno” ou de
seus apoiadores. Doravante, não tenho mais debates políticos e tão pouco
diálogo com quem persiste no apoio desse inimigo público. Entendo e dispenso
qualquer discurso sobre a radicalidade do meu. Estávamos nessa fase quando a
vida dos meus ente queridos não corria perigo direto, já passamos disso. Daqui
pra frente Jair Bolsonaro e seus apoiadores são meus inimigos. E você, que
ainda está em dúvida, sedado por sei lá que processo anestésico, acorde! Quem
te governa não presta!