sexta-feira, 9 de junho de 2017

Tem muito garnizé pensando que é pavão

Tem muito garnizé pensando que é pavão


Tem qualquer extravagância exagerada ( uma redundância, obviamente) no comportamento de quase todo mundo nas redes sociais, apelo  do qual  pouquíssimos escaparam e, que neste  caso eu mesmo não me excluo e carrego, além da vergonha alheia a minha própria, ao verificar a forma como certas vezes me manifestei  nesse palco de fácil acesso . É a explosão de um narcisismo reprimido  por milênios, que acompanhou latente a evolução tecnológica da humanidade,  sem canal disponível para sua vazão, que agora encontra finalmente  a torneira aberta e comporta-se imprevisivelmente, tanto quanto qualquer mola comprimida ao fim da força repressora. Queria  acreditar que isso explicasse esse comportamentos e que essa curva ascendente de manifestações ridículas tende-se a estabilização ao longo do curso civilizatório, mas a impressão que tenho agora, e o pouco estudo que tenho sobre hábitos do homem e as tendências comportamentais intrínsecas à espécie, não me enchem de esperança. Estes movimentos ondulatórios coletivos não tem limites sociais, econômicos ou etários. São, nesse sentido, mais democráticos que certos tipos de gripe.  Atingem a pequena menina que já exagera na maquiagem enquanto admira a própria imagem no espelho. Atingem o garoto que sente a  necessidade de opinar ou intrometer-se em conversas alheias , a adolescente que fala  sem parar monopolizando qualquer possível tentativa de comunicação entre duas ou mais partes .  Alcançam o adulto que procura ostentar aquisições ou conquistas materiais em busca de elevação do seu status social, e está igualmente presente no idosos e na percepção que este desenvolve, de que a sua idade lhe conferiu, além de direitos,  alguma dignidade que lhe faltou durante toda essa existência e que este agora passará o resto da vida a cobrar, e disto fará  a razão para o resto dos seus dias. São  10001 variações de complexos de inferioridade e superioridade combinados e nunca devidamente diagnosticados ou tratados, dos quais provavelmente nenhum de nós escape, em certa medida em algum momento. É muita gente, parafraseando Renato Russo na canção “Índios”, falando demais por não ter nada a dizer. Um incessante e crescente culto do “ter” em detrimento do “ser”. Essa afetação geral, tão evidente nesses canais virtuais é, infelizmente,  tendência comportamental predominante nas sociedades capitalistas modernas.  Poderia citar a aqui, apenas dando uma olhadinha no Facebook , mais milhares de expressões dessas doenças modernas ou antigas e de suas variações e desvios diversos, mas acho que profissionais mais competentes conduzirão no futuro curiosos estudos sobre essa fase da humanidade, em que éramos garnizés e nos comportávamos como pavões. É claro, que entre nós já conviviam criaturas a frente de seu tempo que faziam justamente o contrário. Me ocorreu agora, dois exemplos de discretíssimos pavões que nunca ostentaram toda magnitude de suas plumas, são eles Bob Dylan e Chico Buarque. Penso que mais umas dez humanidades para frente (acordei otimista hoje) eles serão a maioria. Amém.

Diou/2017

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