Palavras no ventilador*
Diante do que sinto ser uma injustiça,
tremo de indignação. Não fosse assim não me sentiria digno de carregar
as mesmas bandeiras do comandante Guevara. Pois foi este mesmo
sentimento de indignação que me inflamou, no inicio dessa semana, quando
soube que o prefeito Gilmar Rinaldi demitiu a companheira Tatiane
Ferreira Della Pase, da diretoria administrativa do Hospital São Camilo,
cargo que ela, a convite do prefeito, aceitou assumir há mais ou menos
dois anos atrás, quando esta instituição encontrava-se no centro de mais
uma das crises da saúde pública na cidade. Outros companheiros e
companheiras, com histórias tão fundamentais a esse Partido quanto a da
companheira Tatiane, também já foram retirados deste governo por motivos
frívolos, e sem que isso fosse sequer comunicado ao Partido, mas vejo o
caso da companheira Tatiane como emblemático para o momento atual da
vida do Partido, no sentido de que serve para que façamos necessárias
reflexões e críticas sobre os caminhos do governo que elegemos, bem como
sobre a relação deste com o Partido que o sustentou e com os movimentos
que este representa.
Tatiane Ferreira Della Pase, com quem fui
casado durante 7 anos e, com quem compartilho a criação dos gêmeos Davi e
Lênin, além de uma amizade vitalícia, carrega bandeiras do Partido dos
Trabalhadores nos ombros, que eu saiba, pelo menos desde os seus 12
anos de idade. Acho que posso dizer que sua vida se confunde com a do
Partido dos Trabalhadores, aqui em Esteio. Esta companheira organizou e
participou de inúmeras campanhas e é hoje, sem dúvida, um dos quadros
mais qualificados na área de saúde pública que milita em nosso Partido. A
companheira, durante estes anos em que esteve na Secretaria Municipal
de Saúde e na Fundação Hospital São Camilo, promoveu incansável defesa
do SUS e buscou dialogar com o governo em todos os momentos, sendo que
em muitos, sou testemunha disso, não obteve respostas. Encerro por aqui
minha defesa do trabalho da companheira, uma vez que esse é um texto
produzido para circulação interna do Partido e, portanto, todos que a
ele terão acesso também conhecem o trabalho da companheira e seus
méritos.
Dito isto, sigo tecendo minhas opiniões sobre o 2° mandato
de Gilmar Rinaldi, tendo em vista tê-lo acompanhado com maior
proximidade do que sua primeira gestão em Esteio. Votei em Gilmar
Rinaldi em sua primeira eleição e fiz campanha para o mesmo na 2°
eleição. Hoje, faltando pouco mais de um ano para o encerramento de sua
segunda gestão, penso que já existam elementos suficientes para
avaliá-la. Assim, apesar da indignação que me moveu a escrever esta
carta, devo ser justo e, amparado por índices positivos de quase todos
os setores do serviço público, reafirmar que esta foi de longe uma das
melhores gestões que a cidade já teve. Claro, que também considero que
boa parte desses bons resultados em setores como habitação, por exemplo,
ocorreram devido a coincidência com políticas do governo federal como o
PAC ,que ocorriam neste período e foram adequadamente aproveitadas pelo
governo municipal. Apesar de seu bom retrospecto numérico, penso que
esse governo não obteve da população o devido reconhecimento por seus
feitos, e que a explicação disto tangencia as questões que aqui levanto
sobre seus métodos e posições, realizados na maioria das vezes de forma
vertical em todas as suas esferas estratégicas e operacionais. Penso
que seja justamente aí que comecem seus problemas, onde o tecnicamente
bom governo Gilmar descola do que enchemos a boca para chamar de “jeito
petista de governar”, o que pressupõe em nossas cartilhas, no mínimo
relações leais e solidárias entre nós, “proletários”. Nesse quesito, o
governo Gilmar é evidentemente um governo descolado das bases que o
elegeram, predominantemente fisiológico e construindo numa base de
alianças questionável, orquestrada fora das esferas estatutárias do
Partido. Penso que o povo, hábil leitor inconsciente das entrelinhas do
poder, sacou o que era subliminar e percebeu que vendíamos
solidariedade aos estranhos enquanto negávamos água e pão aos irmãos.
Nesse sentido, não é difícil perceber as manobras pelas quais este
governo promoveu uma sistemática desconstrução dos movimentos populares e
um estratégico afastamento do Partido que o elegeu. Ou, de outra forma,
como explicar a tumultuada agenda do prefeito que chega a passar um ano
sem pisar no Diretório do seu Partido e em plenos 2015 não aparece em
redes sociais. Em minha opinião, essa distância é nada mais que um
covarde exercício de fugir do conflito . Isto permite que ele promova
ações pelas quais não preste satisfações à legenda que o elegeu ou aos
seus dirigentes, que na maioria das vezes permanecem resignados a um
silêncio cúmplice diante destas. Deixo aqui alguns exemplos de ações
tomadas pelo governo Gilmar, à revelia do Partido , mas pelas quais o
Partido foi cobrado na sociedade e em outros casos prejudicaram
pessoalmente muitos militantes do Partido, bem como as forças internas
responsáveis por suas indicações. Foram elas a lei que exigia ensino
médio dos ccs, e que gerou demissões de quadros nossos. A contratação de
um secretário que custa o salário de dois(Secretário Uéverson Costa
Alves), conta que ainda nos será cobrada. A demissão sumária de
indicações da vereadora Michele em retaliação a posições legais de seu
cargo e que não feriam o estatuto partidário. Demissões de companheiros
sem qualquer comunicação ao Partido. Lembro agora rapidamente dos nomes
dos companheiros Alcebides(Piuí), Charles School, Paulo Ricardo Renner
Fogaça, Marcelo Duarte e na recente e também injustificada demissão da
companheira Tatiane Della Pase. Todos companheiros e companheiras que
defenderam este governo e comprometeram suas construções pessoais em
favor deste. Todas demissões citadas foram em função de articulações
políticas de Gilmar Rinaldi e de seu grupo e nunca debatidas dentro
deste Diretório. Por ironia, neste mais de dois anos em que vivo nas
entranhas do Partido, a única demissão que foi questionada nesse fórum,
pasmem, foi a de ex-prefeita Sandra Beatriz, membro do PTB e ocupante de
um cargo em comissão de indicação do Sr. Mário Sérgio Batistello. Esta
demissão, mereceu do governo uma acirrada defesa,além de uma tentativa
de coação dos vereadores Michele e Léo, responsáveis pelo seu
desligamento e, culminou, todos sabem a partir da relação lógica que
ficaria clara para Davi e Lênin, meus filhos de 7 anos, na demissão da
companheira Tatiane Ferreira Della Pase da direção do Hospital São
Camilo. Ora, sei que não faltarão os que farão defesa do Sr Rinaldi ,
argumentando que este tipo de movimento(retaliação) faz parte do jogo
político e que temos que conviver com isso. Dirão talvez que o prefeito
precisa gerenciar uma série de situações e quem tem seus métodos. Posso
concordar, mas não deixar de lembrá-los que Stálin também tinha os seus
métodos e que, em última instância se resumiram num golpe de
machadinha desferido pelas costas no camarada Trotski.
Estamos
agora , na iminência de um processo de prévias partidárias, que deve
definir o futuro do Partido e talvez o da cidade pelos próximos anos.
Baseado em tudo que coloquei neste texto, e no muito que faltou nele,
nas inúmeras conversas que tive aqui, durante esses anos, com quadros de
todas as forças políticas do Partido, não tenho dúvidas de que o que
tem afundado nossa legenda à nível nacional é justamente esse tipo de
prática que abunda em nosso governo aqui em Esteio, e que é método
corrente de Gilmar Rinaldi e de seu grupo. Não quero fazer aqui nenhum
juízo sobre as pessoas que compõem esses grupos(até porque não tenho
contatos pessoais com a maioria desses companheiros ou companheiras), o
limite de minha crítica é sobre seus métodos e sua ação no campo
político. E, para concluir, é por não querer ser ou continuar sendo
conivente com métodos como os supracitados aqui ,é que não apoiarei a
pré candidatura às prévias de Joceane Gasparetto, que entendo
representar a continuidade desse modelo que só tem feito desagregar o
Partido (ou dividir para governar, se preferirem . Sun Tzu, acho.)
Assim, apelo aqui a todos e todas que ajudaram a construir este
Partido, e que não desejam ver o seu fim, que o repensem agora. Sei que
muitos e muitas compartilham dos sentimentos que expus aqui, porém
mantém suas posições e seus brios limitados as conversas de corredores.
Pois bem, neste caso,com esse texto, faço minhas as palavras dos que
venderam as suas.
Diônata Matos
*Obs: Às vezes, escrevo
canções e só vou entender sua letra tempos depois. Segue um trecho da
que emprestou o título a esse texto.
“...não jogue palavras no ventilador...há um alto preço...que se paga..surf no metrô..
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