sexta-feira, 24 de março de 2017

A carne de língua podre é a mais cara do mercado

A carne de língua  podre é a mais cara do mercado



             O  ano é 2017 e o “jornalismo” de fofocas ultrapassa todos os seus limites. Acabaram de divulgar ao mundo, sem qualquer fundamento sólido, ou prova definitiva, que os frigoríficos brasileiros vendiam carne podre. Conhecendo bem o espírito de porco da nossa burguesia como conheço, não duvido que vendessem até carne humana (o que de certa forma o fazem ). Mas, neste caso, a grande questão não é o que fizeram eles, ou outros, nem o que fariam ou deixaram de fazer. A grande questão hoje é, que nossa imprensa leviana, sem o menor “domínio do fato” (termo que tanto os deliciou, em idos de outros tempos) desandou , como se o Corinthians tivesse ganhado o mundial,  a jogar “notícias” no ventilador, aos quatro ventos, sobre  o que pra ela era mais um escândalo (que nesse momento também serve de cortina de fumaça)banal e cotidiano. Só que até o momento,  este que poderíamos denominar, crime de língua podre, já deve ter custado ao Brasil uns 14 bilhões de reais (falando apenas das vendas suspensas ou canceladas do período) subtraídos do já minguado resultado interno bruto de nossos esforços para juntar o sagrado superávit banqueiro de todo ano. Isso, sem falar no efeito dominó destas interrupções na indústria de carne, nos empregos  diretos e em todos os demais resultados econômicos da nação. Sim, estamos falando de uma micro crise bilionária gerada pela irresponsável mídia nacional.
          Novamente, a questão central aqui não é a acusação, nem o acusado, mas a forma leviana com que foi feita e divulgada a matéria. A questão aqui  é a disposição dos sujeitos da nossa  mídia, sempre prontos a disseminar boatos capazes de destruir a economia (claro,nesse campo o que é ruim para  uns é bom para outros), os processos políticos,  bem como muitas biografias a partir da divulgação de             “denúncias” fora de contexto e muitas vezes sem nenhuma prova física.
       Diante disso, urge uma regulamentação dos veículos de comunicação, que inclua uma  revisão das concessões públicas dos meios de comunicação ( TV, rádio), bem como uma redefinição dos marcos jurídicos de operação desses veículos, que redefinam seus limites legais, no que diz respeito a responsabilidade sobre o conteúdo divulgado. É necessária também uma legislação mais dura para a divulgação de “notícias” inverossímeis, não amparadas por provas e de intenções sensacionalistas, que visem desestabilizar mercados , processos  políticos ou macular biografias. Não trato aqui de reforçar ou instaurar qualquer mecanismo de censura, mas, sugiro aqui uma grande e necessária revisão dos marcos legais de atuação  dos agentes e veículos de comunicação. Isso também não significa que acredito na utopia imbecil da existência de uma mídia isenta. Pelo contrário, penso que essa reforma deve fomentar a diversidade de ideias e ideais,  através da multiplicação dos veículos de comunicação que contam com concessões e financiamentos públicos para sua operação.
      Além disso, acredito que seja pré requisito à qualquer veículo ou empresa de comunicação que venha a pleitear esses recursos públicos,  que além de respeitar os marcos jurídicos estabelecidos, que assegurem a credibilidade dos conteúdos por este publicados, e que explicitem  o real posicionamento ideológico (a esquerda ou direita do espectro político)  expresso em seus conteúdos. A internet e suas inúmeras ferramentas  ainda introduzem nesse debate uma nova fronteira  no que diz respeito a disseminação de informações e, tudo isso, sem dúvida nenhuma, suscita a necessidade de um grande debate sobre comunicação e sobre a continuidade do processo de civilização, o que talvez seja status quo necessário a própria sobrevivência da espécie ou pelo menos, orientação mínima às entidades preocupadas com os  olfatos sensíveis à desintegração da carne e da coerência.

Diônata Matos - Março 2017 - Esteio -RS



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