A carne de língua podre é a mais cara do mercado
O
ano é 2017 e o “jornalismo” de fofocas ultrapassa todos os seus limites.
Acabaram de divulgar ao mundo, sem qualquer fundamento sólido, ou prova
definitiva, que os frigoríficos brasileiros vendiam carne podre. Conhecendo bem
o espírito de porco da nossa burguesia como conheço, não duvido que vendessem
até carne humana (o que de certa forma o fazem ). Mas, neste caso, a grande
questão não é o que fizeram eles, ou outros, nem o que fariam ou deixaram de
fazer. A grande questão hoje é, que nossa imprensa leviana, sem o menor
“domínio do fato” (termo que tanto os deliciou, em idos de outros tempos)
desandou , como se o Corinthians tivesse ganhado o mundial, a jogar “notícias” no ventilador, aos quatro
ventos, sobre o que pra ela era mais um
escândalo (que nesse momento também serve de cortina de fumaça)banal e
cotidiano. Só que até o momento, este
que poderíamos denominar, crime de língua podre, já deve ter custado ao Brasil
uns 14 bilhões de reais (falando apenas das vendas suspensas ou canceladas do
período) subtraídos do já minguado resultado interno bruto de nossos esforços
para juntar o sagrado superávit banqueiro de todo ano. Isso, sem falar no
efeito dominó destas interrupções na indústria de carne, nos empregos diretos e em todos os demais resultados
econômicos da nação. Sim, estamos falando de uma micro crise bilionária gerada
pela irresponsável mídia nacional.
Novamente, a questão central aqui não
é a acusação, nem o acusado, mas a forma leviana com que foi feita e divulgada
a matéria. A questão aqui é a disposição
dos sujeitos da nossa mídia, sempre
prontos a disseminar boatos capazes de destruir a economia (claro,nesse campo o
que é ruim para uns é bom para outros),
os processos políticos, bem como muitas
biografias a partir da divulgação de “denúncias”
fora de contexto e muitas vezes sem nenhuma prova física.
Diante disso, urge uma regulamentação
dos veículos de comunicação, que inclua uma revisão das concessões públicas dos meios de
comunicação ( TV, rádio), bem como uma redefinição dos marcos jurídicos de
operação desses veículos, que redefinam seus limites legais, no que diz
respeito a responsabilidade sobre o conteúdo divulgado. É necessária também uma
legislação mais dura para a divulgação de “notícias” inverossímeis, não
amparadas por provas e de intenções sensacionalistas, que visem desestabilizar
mercados , processos políticos ou
macular biografias. Não trato aqui de reforçar ou instaurar qualquer mecanismo
de censura, mas, sugiro aqui uma grande e necessária revisão dos marcos legais
de atuação dos agentes e veículos de
comunicação. Isso também não significa que acredito na utopia imbecil da
existência de uma mídia isenta. Pelo contrário, penso que essa reforma deve
fomentar a diversidade de ideias e ideais,
através da multiplicação dos veículos de comunicação que contam com
concessões e financiamentos públicos para sua operação.
Além disso, acredito que seja pré
requisito à qualquer veículo ou empresa de comunicação que venha a pleitear
esses recursos públicos, que além de
respeitar os marcos jurídicos estabelecidos, que assegurem a credibilidade dos
conteúdos por este publicados, e que explicitem o real posicionamento ideológico (a esquerda
ou direita do espectro político)
expresso em seus conteúdos. A internet e suas inúmeras ferramentas ainda introduzem nesse debate uma nova
fronteira no que diz respeito a
disseminação de informações e, tudo isso, sem dúvida nenhuma, suscita a
necessidade de um grande debate sobre comunicação e sobre a continuidade do
processo de civilização, o que talvez seja status quo necessário a própria
sobrevivência da espécie ou pelo menos, orientação mínima às entidades
preocupadas com os olfatos sensíveis à
desintegração da carne e da coerência.
Diônata Matos - Março 2017 - Esteio -RS
Nenhum comentário:
Postar um comentário