O que será que seria?
Não sei ao certo se os anos me podaram ou me poliram, mas
acredito que sou hoje um cara muito parecido com o cara que minhas ex
namoradas(quase todas) queriam que eu fosse. Também não cabe aqui julgamento
sobre se estavam certas ou erradas. Acho que para o historiador cabe, sem juízo
de valores, a compreensão do processo e do fim resultante deste (a atual situação do objeto).
Estando eu, hoje, contando 34 anos de vida, delimitemos nosso período de
investigação aos últimos 14 anos. Chegamos assim a um homem adulto de 20 anos.
Adulto seja talvez uma palavra muito forte para alguém que cruzou intensamente
os anos que seguiram à sua infância, e
os viveu entregue a paixões que nunca tiveram fim. Consideremos então a
fase adulta, nesse caso, como uma mera
referência à convenção social
dominante no mundo ocidental acerca das
fases etárias do ser humano, e não necessariamente como uma condição psíquica definida.
Vivia eu, nesse caso, no início do período previamente estabelecido, os últimos resquícios de uma adolescência
povoada pelo embate empírico e teórico, provocado pelas antagônicas experiências ofertadas por um
mundo dividido em muito mais que dois lados, na busca da construção de uma
identidade ideológica coerente ou compatível
com os acordes do coração. Vivia num épico sonho onde ainda haviam mais
heróis que vilões, e quando meu coração
ainda se dava por satisfeito com estes simplórios resumos maniqueístas do
universo. Eu vivia os anos 70 e 80 no fim dos anos 90, e meu coração flutuava no contínuo espaço
tempo com passe livre pra qualquer dia feliz. Eu era feliz e sabia disso.
Talvez só não soubesse que passaria tão rápido. E ali estava eu, despertando
lentamente desta bela noite de sonhos. Acordei, porém os sonhos seguiram me
perseguindo durante toda a próxima década. A diferença é que a cada aniversário
estes iam perdendo um pouco de brilho e adquirindo um certo aspecto cruel que a vida é capaz de
conferir à histórias que não chegaram encontraram um fim ou pelo menos um fim
decente. Aí, a locomotiva dos dias, que não pode ser parada trouxe novas
histórias, que conviveram com as antigas que seguiam ali
atravancando portas e gavetas. Jesus não veio me salvar, mas acho que mandou o
Davi e o Lênin, meus filhos gêmeos que, de certa forma, me exorcizaram de boa
parte desse passado me fazendo olhar paro o futuro. E assim cheguei aos 34 anos,mais ciente da vida e próximo da morte do que estava há 14
anos atrás e, se com minhas missões nessa existência ainda incompletas, pelo
menos mais próximo de desvendá-las. Talvez, o único problema disto tudo seja
que o gosto das minhas ex namoradas também tenha evoluído com o tempo e assim o
que sou já esteja defasado em relação ao
que deveria ser (segundo estas hipotéticas opiniões). Neste caso, na
impossibilidade de ser o que nunca serei, contento-me em ser o que me
tornei e feliz com quem me entender.
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