sábado, 16 de dezembro de 2017

A esquerda no bosque dos coelhinhos

A esquerda no bosque dos coelhinhos

Os(as) companheir@s da esquerda são engraçados, em pelo menos dois aspectos desse adjetivo. São, com certeza, sujeitos cheios de graça, no sentido de serem, normalmente, pessoas bastante carismáticas, mas, também e muito, no que se refere a muitos de seus anedóticos comportamentos de quando estabelecidos no poder. Desde sempre acompanho ou procuro acompanhar de perto os movimentos da política nacional brasileira e especialmente os mandatos d@s companheir@s eleit@s de esquerda. Mandato de esquerda, no âmbito de um sistema econômico capitalista/financista, onde o dinheiro dita as regras e os resultados do jogo, é remar o tempo inteiro contra a correnteza mais forte do mundo. Assim, esses mandatos são representantes dos mais legítimos anseios populares e da classe trabalhadora, nessa injusta peleia contra o deus Mercado. Essa missão, exige deles grande habilidade política, concentração, contato constante com suas bases eleitorais e atenção às constantes oscilações do cenário político mundial e, tudo isso, sem acesso aos recursos financeiros e ao apoio midiático com que normalmente contam mandatos de direita.
Tudo isso, exige desses representantes da esquerda, uma postura muito mais séria e determinada que a dos políticos da direita. No entanto, o que muitas vezes observo, sem saber se choro ou rio, é que muit@s de noss@s companheir@s tem feito uso desses fundamentais espaços de representação da vontade popular, não de forma corrompida(na maioria das vezes),  mas com certeza com posturas aquém do que essa luta exige.
Millor Fernandes costumava dizer que o poder é um camaleão ao contrário, que confere sua cor a tudo em sua volta . Esse processo é uma tese de fácil comprovação. Basta olhar um pouco aí a sua volta e observar a diferença de postura de muit@s de noss@s companheir@s antes e depois de suas eleições. O cara ( a guria), desde o movimento estudantil, possui uma retórica contundente e devastadora. Uma capacidade inata de inflamar multidões. Entra no Partido e demonstra excepcional habilidade nas relações internas e, em suas relações políticas facilmente constitui um grupo de leais soldados ( ou melhor, aguerridos correligionários). Amplia suas forças como líder de um movimento social/popular que passa a constituir sua base eleitoral. Elege-se com uma campanha política em que aparece como um(a) feroz guerrilheir@ cuban@, com direito a foice na mão, camiseta do Che Guevara e boné do MST na cabeça. Agora, ele(a)  finalmente chegou a Câmara e tem seu próprio gabinete. Tá ali sua nova trincheira, o quartel general de sua revolução. É parecido com a sala do Grêmio Estudantil, porém com uma decoração um pouco mais sofisticada. Lembra muito as salas do Sindicato, porém um pouco menos insalubre. Quase igual ao Cômite de seu heróico grupo político, mas um pouco mais limpinho e organizado. Ah, é claro, também tem esse maravilhoso ar condicionado que deixa todo esse duro passado lá bem do lado de fora, e permite que @ noss@ agora “ companheir@ eleit@” troque suas surradas camisetas de movimento por uma vestimenta mais adequada a sua nova posição. Mas ele(a) acabou de chegar, ainda é uma fera selvagem  numa loja de cristais. Serão necessários uns, vamos exagerar, dois meses para que seu surrado traseiro adapte-se às confortáveis e anatomicamente perfeitas cadeiras do gabinete. Mas noss@ herói(roína) ultrapassa rapidamente as melhores expectativas de Darwin e em tempo recorde demonstra em si mesmo todo poder da seleção natural. Já trafega com destreza por todo aquele emplumado ambiente, começa a perder o caninos e compreende que sua nova arma naquele lugar está nas mãos e na sua graciosidade. Ciente de seu novo poder, agora distribui apertos de mãos, tampas nas costas e sorrisos. Agora freqüenta versinages, pomposos  jantares e os mais “bem freqüentados”  gabinetes . Já descobriu o caminho para a máquina de café todas as bocas-livres que aquela nova posição lhe proporciona. Já foi capturad@ e engolid@ por uma fera, que ele(a) conhecia bem, e ainda nem notou.
Esta é na verdade uma crônica sobre como o Homo Sapiens adapta-se rapidamente ao conforto e esquece todo o resto, incluindo o que veio fazer e quem o trouxe até aqui. Quem nunca foi numa festa,  com um amig@ e apenas um convite, deixou @ amig@ no lá de fora esperando um sinal para que ele(a) também pudesse entrar e acabou se envolvendo com a festa e esquecendo @ amig@. É humano, não dá pra culpar ninguém por isto. Todavia, como insistia em pregar e praticar o Comandante Che, uma disciplina dura é pré requisito para um revolucionário. Quem não é de mar que fique na areia. Um representante das históricas lutas populares até pode usufruir certos luxos, mas não entregar-se a eles, de forma a tornar-se relapso ou mesmo pouco produtivo nessa verdadeira guerra que só quem tem calos nas mãos   até a camada mais funda da alma compreende plenamente.

Mas, essa é só mais uma das minhas moscas sem asas, destinadas a não ultrapassar o monitor. Este é apenas um desabafo, pra dizer que espero o que qualquer um espera de alguém em quem devotou alguma confiança, a ponto de designá-lo como seu representante. Enquanto isso, sei que os meninos seguem andando na Floresta dos lobos como se passeassem no Bosque dos coelhinhos.

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