Só as mães são felizes
O objetivo da vida não pode ser a
felicidade. Se assim for, tudo é permitido e rompem-se todos os limites
possíveis entre o meu e o seu espaço. Cada um poderia fazer o que bem
entendesse numa busca insana por um obscuro ideal de um sentimento de definição
imprecisa e de caráter fugaz. Antes, a felicidade deve ser e só existirá de
verdade, como conseqüência de um processo longo que necessariamente exige auto
conhecimento.
Vivemos a era da procura da
felicidade individual, seja ela o que for. A nova regra é a busca ilimitada da
satisfação pessoal e do prazer a qualquer custo durante o tempo todo. As revistas,
o cinema, a internet e a televisão vendem isso o tempo inteiro. É tudo para o “seu”
conforto, para “sua “ comodidade, para “sua” satisfação. Assim, conforma-se uma
sociedade hedonista e impaciente, avessa ao desconforto, a dor, ao trabalho e
ao compromisso. Queremos tudo e queremos agora.
Mas, a felicidade parece cada vez
mais uma cenoura presa por uma vara na cabeça de um jumento, que caminha atrás
dela sem parar e sem nunca alcançá-la. É obvio que a felicidade nos impulsiona,
tal qual a cenoura na cabeça do jumento. Mas para que, nesse caso, não sejamos
os jumentos das revistas de moda e comportamento, é preciso vê-la sob outra
perspectiva. É preciso, em primeiro lugar, como diria o velho Sócrates,
conhecer a si mesmo. Mas, isso implica, necessariamente, em muitas decepções,
principalmente consigo mesmo. A primeira delas é constatar que, em muitas
situações, agimos como o jumento da cenoura. Quando conseguimos enxergar isso minimamente e
também minimamente corrigir esse comportamento, enfim, descobrimos que abre-se
para nós um fundamental portal chamado lixeira.
Então é chegada a hora de pisar
naquele pedalzinho mágico da lixeira e deixar ali nesse buraco negro todas as
revistas de papo merda, folhetins, programações mentais e outras quinquilharias
fúteis que compramos como mapas ou atalhos para a felicidade. Feito isso,
seremos mais capazes de iniciar um mergulho interno atrás de um porto, onde
estão os verdadeiros valores capazes de nos elevar como seres humanos.
Precisamos entender que somos parte de um todo e que somente a busca pelo bem
estar geral desse organismo indivisível, do qual fazemos parte, deve proporcionar
genuína satisfação ao nosso espírito, sensação também denominada “felicidade”.
O que não passar por esse caminho não é mais que qualquer forma de ilusão material de natureza efêmera e
incapaz de nos elevar enquanto seres espirituais que somos.
A verdadeira felicidade definitivamente não está a venda nas melhores
casas do ramo. Ela é sempre uma construção. Não deve, portanto, ser tratada
como um objetivo, mas como uma conseqüência. É a recompensa de se andar por
estradas insalubres, lutar com gigantes e de vencer a si mesmo. O velho Cristo lançou o mapa verdadeiro dela,
lá no Sermão do monte, quando disse que mais feliz é o doador do que o
beneficiado. Todos os professores sabem disso. O Cazuza sabia disso quando
afirmou que só as mães são felizes, porque indiscutivelmente são as entidades mais
generosas do universo.
Então, desculpe se tropecei e
derrubei seu pequeno castelo de idéias das areias desse micro cosmo
judaico/capitalista/cristão(e não do Cristo)/ Ocidental. O mundo e você
precisam ser mais felizes e todos precisam saber o que só as mães sabem.
Diou/Dez 2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário