quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Feliz ano velho 2011

                       Saudações, caros amigos! Então é natal, e o John Lennon sempre aparece nessa época (ok, eu sei, o Papai Noel também) pra perguntar: e o que você fez? Esse ano eu queria ter alguma coisa legal pra contar pro cara, então resolvi escrever essa carta (pessoal/coletiva) para alguns amigos. Se você está lendo provavelmente é um deles.
                       Há muito tempo me sinto em débito com o passado, emocionalmente inadimplente com pessoas que fizeram/fazem parte da minha história. Não preciso contar pra ninguém que, em alguma idade, a vida pisa fundo no acelerador e a gente fica só vendo a paisagem e os pontilhados da estrada se transformando numa só linha infinita. E essa é a desculpa pra tudo que ainda não fiz, ou não tinha feito, incluindo essa carta. Mas, cá estou eu, ainda em tempo hábil. Todos os anos, nessa mesma época (o fim do ano), me visitam, além do John Lennon, diversos fantasmas de natais passados, cobrando meus planos que não realizei, minhas desistências, as pessoas que não visitei e as ligações que não fiz e, enfim, todas boas intenções que superlotam o inferno.
                       Hoje, com 30 anos, meu corpo praticamente não tem cicatrizes, talvez pela minha aversão a esportes praticados sem cadeiras, mas, minha alma deve ter mais de um milhão de tatuagens. São pessoas que cruzei em alguma esquina dessa existência, que me acompanharam durante anos, ou que conheci e disse adeus para sempre numa dessas curvas da highway. A profundidade dessas marcas nem sempre é diretamente proporcional ao efeito do tempo, pelo menos não ao da física clássica. Com certeza tem mais a ver com esse rio quântico que percorre as entrelinhas e atalhos dessa estrada. Está tudo ali, gravado na minha epiderme astral, cada sensação, cada encontro, porre, noite, beijo, poesia, canção, etc. E, por alguns instantes, mergulhado nessa piscina, consigo evocar tudo isso novamente. Não lamento a sorte de nenhuma relação que tive, todas cumpriram seu papel no tempo, a rasura perfeita na sua hora. Não descarto, nem projeto nenhum futuro para esses versos. Não sei quantos voltarei a encontrar nesse plano, se é que há outro. Todas essas memórias ainda me doem e, de concreto, é só isso. E tudo que eu dissesse além disso não passaria de jargões exotérico filosóficos baratos, semelhantes aos que se multiplicam nas livrarias. Vamos poupar essa história dos livros de auto ajuda e da ética protestante. Vamos ficar com o Fernando Pessoa e, continuar acreditando que tudo vale a pena se a alma não é pequena. Vamos ficar com o Guessinger comparando a vida a um quadro pontilhista, onde cada ponto isolado nada representa, mas, juntos, todos esses recortes, vistos à distancia, finalmente fazem sentido. Continuarei pontilhando a tela, mesmo sem ter noção do desenho final. Obrigado pelos pontos que fizemos juntos.
                        Gosto de pensar que o que nos uniu se transformou e nos fez melhores nessa suave alquimia do tempo; que os sentimentos perdem a urgência e ganham constância, longe da violenta chama da paixão. Essas são pílulas que me confortam contra a inexorável passagem das horas e as distâncias que ficam sempre maiores. Mas, como nada do que foi será de novo do jeito que a gente queria que fosse que, no mínimo, seja muito melhor. E, por mais fugaz que seja o instante, esse é o vinho que temos à mesa e, ele também envelhecerá e fará parte da doce safra da memória.
                        E finalmente, que 2012 venha carregado das melhores energias que o universo possui e, traga mais reencontros  do que despedidas, mais beijos do que bombas, mais poesia  do que notícias ruins e, pelo amor de Deus, menos clichês publicitários baratos. Feliz natal e um lindo ano novo para todos nós, cheio de paz e muitas alegrias e um último brinde:  à Fernando Pessoa.


                         Amém .

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