sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Pergunte ao pó

É impossível repetir o que só acontece uma vez. E a história acontece o tempo todo. Agora mesmo, enquanto conversamos, milhares delas começam e terminam. Abrem e fecham-se ciclos, paralelos e repletos de detalhes destinados a perecer na poeira das estradas e das estantes. Na ânsia de preservar esses instantes, tiramos fotos, escrevemos livros ou pichamos muros. Cada vez mais somos números, insignificantes algarismos anônimos, mais de seis bilhões de atores, com papéis únicos e perdidos em sabe-se lá quantas humanidades. E, no fim, sabe-se lá quem somos, por que estamos ou pra onde vamos. De certo, ficará apenas o que fazemos. Nossos rastros, nossas pegadas. Desenhos em cavernas e o inevitável domínio público de nossas memórias, pelo menos as que desenhamos. Talvez, nos caiba apenas a tarefa de facilitar o trabalho dos arqueólogos. Com nossas canções, fotos, livros ou com os muros que pichamos deixar pistas, que talvez iluminem o futuro. Cabe-nos o registro de nossas impressões sobre o tempo que vivemos, esse hiato entre o nada e o incerto. Cabe-nos viver e entender nossa maldição, de que tudo que tocamos vira história. Assim, se ainda importarem tantas dúvidas, pergunte ao pó.



Diou 2011

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